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14 de fevereiro de 2019

Acessibilidade no metrô: uma visita ao Centro de Controle Operacional

Conhecemos o 'cérebro' por trás do funcionamento das estações e do atendimento aos passageiros com deficiência ou mobilidade reduzida no metrô de São Paulo

Descrição da imagem: foto de Lucas e um funcionário do metrô no Centro de Controle Operacional do Metrô. Eles estão de costas, olhando, através de uma parede de vidro, para uma sala repleta de painéis eletrônicos e computadores operados por cerca de 10 pessoas.

Por Lucas Borba

Há um ano moro sozinho na capital paulista. Como sou uma pessoa com deficiência visual total, é comum que eu ouça todo o tipo de perguntas, que sempre tento responder da melhor forma possível.

Uma questão frequente é sobre a minha experiência com o transporte público da cidade. Minha resposta continua sendo a mesma até hoje: adoro particularmente o serviço de metrô.

Acho que desde a primeira vez que mergulhei nos túneis de São Paulo fiquei me perguntando como o ir e vir de tantos trens de forma sincronizada devia funcionar em uma metrópole com mais de 12 milhões de habitantes. O sistema era manual ou automatizado? E o fluxo nas estações, a segurança? Quantas histórias não devem se passar em cada uma delas diariamente… Se para uma pessoa vidente essas dúvidas já são comuns, imagine para alguém que não pode usar a visão para investigar.

Nada que perguntas ou uma boa pesquisa não resolvam, porém. Foi assim que descobri os roteiros de visitação oferecidos pelo metrô. Mais do que isso, as visitas também são abertas a pessoas com deficiência visual, com um atendimento direcionado para esse público. Fui conferir a experiência em primeira mão e escolhi um dos seis roteiros oferecidos: a visita ao Centro de Controle Operacional (CCO), situado próximo à Estação Vergueiro.

Além do aquário

Descrição da imagem: foto de um funcionário do metrô conversando com Lucas no Centro de Controle Operacional. Ao fundo há painéis eletrônicos na parede e pessoas no computador.
Instrutor de treinamento Demétrio Souza (dir) apresenta sala principal do Centro de Controle Operacional do Metrô de São Paulo

Fui muito bem recebido pela equipe do metrô, que desde o início se colocou à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas que restassem apesar das informações fornecidas durante o passeio. Já na entrada, soube que o prédio do CCO é imponente, com vidros espelhados na fachada.

A seguir, entramos no ambiente chave da nossa visita, uma espécie de aquário circundado por vidros que permitem ao visitante observar a movimentação de duas importantes salas do complexo. Uma delas é o Centro Operacional, responsável por garantir a rotatividade segura dos trens do metrô em cada uma das linhas. Àquela hora, no começo da tarde, a sala contava cerca de 30 pessoas. Cada linha possui, em média, três supervisores, que postados em frente a um dos grandes painéis com luzes indicativas presentes no recinto monitoram o funcionamento dos trens, o sincronismo entre eles e a movimentação nas estações.

“Por medida de segurança, um trem não pode ficar a menos de 150 metros de distância do outro e também é por isso que pedimos que as pessoas não segurem as portas do veículo, porque detalhes como esse interferem no sincronismo e temos que remanejar todo o fluxo”, explica o instrutor de treinamento Demétrio Souza. Todo o processo é automatizado, mas a presença de um operador é fundamental em cada trem, já que cabe a ele monitorar o status elétrico e mecânico da máquina, prestar qualquer apoio eventual a um passageiro, realizar operações manuais quando necessário – como o abrir e fechar de portas a uma pessoa com deficiência visual – e ser um contato permanente do CCO com o trem em questão.

Segurança

Descrição da imagem: foto de uma mulher de óculos escuros e bengala passando por uma catraca segurando o braço de uma funcionária do metrô.
Funcionários do metrô recebem treinamento para auxiliar pessoas com deficiência nas estações (foto: Karlis Smits/2009)

A segunda sala é a de Controle de Segurança. Nela, cerca de dez pessoas monitoram as imagens das câmeras de cada estação. Caso uma situação de risco seja observada, a estação recebe um alerta para que a equipe de segurança possa averiguar o caso. O metrô possui até mesmo uma lista de ocasiões que exigem maior atenção. “Em grandes eventos como o Ano Novo, Carnaval, Virada Cultural e outros,  iniciamos o planejamento da logística e estratégias com muita antecedência,  variando de acordo com a complexidade e tamanho do evento”, conta Souza.

O que torna a experiência do metrô mais gratificante em meu cotidiano, porém, é o atendimento à pessoa com deficiência visual. Além do sistema sonoro implementado nos trens,  o passageiro cego ou com baixa visão também pode contar com um serviço de acompanhamento, que inicia quando este chega ao metrô. Um funcionário o acompanha e o embarca no vagão mais próximo ao operador do veículo, não sem antes perguntar em qual estação ele irá desembarcar. Essa informação é repassada ao CCO que, por sua vez, comunica a estação em questão para que outro funcionário  o aguarde na plataforma.

“Antes de integrar a equipe de uma estação, todo o funcionário passa por três meses de treinamento, que inclui uma sensibilização e instruções específicas sobre como atender e guiar uma pessoa com deficiência visual, um cadeirante ou idoso”, afirma o instrutor.

Só tenho a agradecer à equipe do metrô e à Fundação Dorina por me proporcionar a oportunidade de entender um pouco dos bastidores desse serviço tão importante em meu dia a dia e fundamental para milhões de paulistas, naturais ou não da capital.

Descrição da imagem: foto de Lucas Borba retratado da cintura pra cima. Ele tem pele clara, cabelos pretos e curtos, usa camiseta vermelha, apoia as duas mãos sobre uma bengala e sorri.

Lucas Borba é jornalista e Assistente de Comunicação da Fundação Dorina Nowill para Cegos. Há três anos, fundou o canal Câmera Cega, sobre cinema e cultura pop.