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Fabiano

Quando a vida passa velozmente e já não posso vê-la.

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Fabiano, em meados de 2008 saiu com a esposa recém-desempregada para buscar o cheque de sua rescisão, de moto. A vida passando veloz por eles a 91 km por hora foi a última cena que Fabiano enxergara. Ele nunca mais voltaria a ver.

Do instante em que colidiu com um táxi à sua frente até o momento em que acordaria do coma, ele simplesmente não se lembra de nada. “Me contaram depois que eu fiquei com metade do corpo para dentro de um táxi e a outra metade para fora. O motorista do táxi fugiu e, para completar, roubaram a minha carteira onde estava o nosso cheque. Quebrei o rosto inteiro. Tive um trauma profundo nos olhos, minha cara ficou afundada e tiveram que reconstruir tudo com platina. Quando acordei, não entendi nada do que estava acontecendo. Não tinha ideia por que estava ali. Não conseguia nem raciocinar direito para entender por que eu não estava enxergando. Quando cheguei em casa bateu um desespero. Só conseguia pensar: ‘fiquei cego, já era. Não sirvo pra mais nada.”

Os médicos sugeriram à família que encaminhasse Fabiano à Fundação Dorina para que ele começasse o quanto antes o seu trabalho de reabilitação. “Não gostava de ficar dependendo dos outros. Então um dia, resolvi vir sozinho. Peguei um cabo de vassoura para servir de bengala, olhei pra frente e fui. Chegando lá, a professora me deu bronca. Me disse que eu não poderia mais fazer isso, que eu não estava preparado. Mas eu, que nem burro empacado, disse que se eu não pudesse mais vir sozinho então eu não viria mais. Aí ela decidiu me dar umas aulas intensivas… E foi assim que eu aprendi a andar sozinho.

A professora até me elogiou”, conta alegre e orgulhoso, como um menino que acabara de tirar 10 na prova. Embora seja um rapaz sempre muito alegre, algumas coisas ainda abalam Fabiano, que sofre por não conseguir ver tudo o que gostaria. “Meu sonho era ver meu filho andando de bicicleta. No dia que ele me contou que estava andando sozinho, sem as rodinhas, fui chorar escondido porque eu nunca iria ver o moleque pedalando”. Depois das aulas de mobilidade, Fabiano participou das Atividades da Vida Diária (AVD), que ensina os alunos a fazer tudo o que faziam no dia a dia antes da perda da visão.

“Um dia falei com a professora de AVD que estava chateado porque não podia mais fazer cavanhaque. Aí ela perguntou “Não pode por quê? Traga a gilete na próxima aula que vou te ensinar”. “Aí pensei: ‘Essa eu quero ver. Ela é mulher, como é que uma mulher vai me ensinar a fazer cavanhaque? E não foi que ela me ensinou mesmo?” Fabiano ressalta que a Fundação Dorina tem uma importância muito grande na sua vida, pois foi aqui que ele reaprendeu a viver. “A Fundação foi o pontapé inicial para essa minha nova fase. Foi aqui que eu reaprendi tudo, onde eu fiz amizades e descobri o mais importante: foram-se os olhos, mas a vida continua.”

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