Quando chegou à Fundação Dorina em 2011, depois de ter perdido a visão devido ao glaucoma, Cíntia ainda não aceitava a deficiência visual. Não queria nem ouvir falar de usar bengala.
E logo no primeiro dia na instituição, assistiu à palestra de um fotógrafo cego, que fizera sua reabilitação na Fundação Dorina alguns anos antes.
“Como um cego pode fotografar, se ele não enxerga nada? Eu não acreditava em nada disso!”, disse ela.
O fotógrafo em questão era Marco Oton, que compreendeu a incredulidade da moça e a chamou para uma demonstração prática no meio da sala. Posicionou-se, regulou a câmera, pediu um sorriso e clicou um lindo retrato. Ainda assim, Cíntia só acreditou que a foto estava boa quando sua mãe, que a acompanhava na reunião, também aprovou.
No dia seguinte, o simpático fotógrafo – que perdeu a visão por conta da retinopatia diabética – mandou a foto de Cíntia pelo extinto Orkut, eles trocaram telefones e, bem, o final dessa história vocês já podem imaginar…
Casamento
Cíntia sempre teve o sonho de casar de vestido branco, véu, grinalda, marcha nupcial e tudo que tem direito uma cerimônia tradicional. E Marco, muito romântico, cumpriu o protocolo à risca, fazendo o pedido de casamento numa festa surpresa organizada com a ajuda de toda a família.
“Ela nem conseguia responder, de tanta emoção, mas ainda bem que disse ‘sim’ no final”, diverte-se ele.
Perguntamos ao casal o que foi que eles viram um no outro… Confira as respostas no vídeo abaixo:
Todos os amigos e familiares contribuíram para que a festa dos dois fosse inesquecível! E cada detalhe da cerimônia – as flores da decoração, a entrada das daminhas de honra jogando pétalas até o altar, o sorriso dos convidados, as lágrimas dois pais, as luzes da pista de dança – tudo foi minuciosamente contado por audiodescrição. Tanto o casal quanto os amigos com deficiência visual ganharam fones de ouvido para escutar os detalhes visuais da festa ao vivo, narrados por uma amiga locutora que os presenteou com o serviço.
“Não foi só uma festa, foi um momento único em nossas vidas, com a presença de amigos e familiares que fazem parte da nossa história. Foi incrível ver todos juntos, dançando, se divertindo conosco”, conta Cíntia.
Companheirismo
Hoje, comemorando três anos de casados, o casal dedica boa parte de seu tempo livre à realização de palestras sobre a deficiência visual e à organização de eventos de inclusão em Guarulhos (SP), onde moram.
Ela se formou em pedagogia com pós-graduação em Educação Especial na Deficiência Visual. Ele, além de fotógrafo, é graduado também em Ciências Sociais.
“Nossos projetos já contam com mais de 70 pessoas com deficiência visual. Aprendemos muito um com o outro, e queremos fazer muito mais pela inclusão. Costumo dizer que na Fundação Dorina eu saí de uma gaiola e aprendi a voar com liberdade depois de ter ficado cego, e foi lá também que eu encontrei o amor da minha vida”, diz Marco.
E o dia a dia dos dois é como a de quase todo casal: cheio de companheirismo, boas risadas, algumas briguinhas de vez em quando, mas acima de tudo, com muito respeito e amor!