Qualquer pessoa que ouvisse Zoilo de Toledo contar seus 57 anos de história com a Fundação Dorina não acreditaria que ele já está com 86 anos.
Sua narrativa é cheia de detalhes, nome de voluntários e de cidades.
Zoilo nasceu com problemas na visão e seu pai levou-o para fazer um tratamento em Campinas, que na época era referência nos atendimentos oftalmológicos, mas a viagem foi infrutífera. Ele acabou perdendo toda a visão do olho esquerdo e ficou com um pequeno resquício visual no direito.
Como isso aconteceu quando ele ainda era bem novo, por volta dos dois anos de idade, ele não tem nenhuma memória visual de quando enxergava.
Devido à sua deficiência, estudou o primário e o ginásio em uma escola para pessoas com deficiência visual: o Instituto Padre Chico, ainda em funcionamento na capital paulista.
Em 1948, Zoilo conheceu Dorina Nowill mas não como nós a conhecemos hoje: ela foi sua professora de inglês. Ele não imaginava que esse encontro que parecia despropositado o ligaria à Fundação Dorina por muitas décadas.
Depois de terminar a escola, Zoilo estudou seis anos de teoria musical e música, também no Padre Chico. A contragosto, profissionalizou-se em massoterapia, porque sua mãe acreditava que era a única profissão que uma pessoa que não enxergava poderia exercer. “Quando eu pensava em faltar às aulas, eu lembrava da minha mãe e ia”, conta rindo.
Quando tinha 29 anos, Dorina Nowill, que o conhecia dos tempos de colégio, convidou-o para trabalhar transcrevendo partituras em braille. Ele explica que, para quem enxerga, a linguagem musical é universal entre os países e os instrumentos. Mas nem sempre foi assim com o braille. Em 1982, aconteceu uma reunião internacional para a reunificação da musicografia braille e Zoilo foi convidado por Dorina a participar.
Em sua trajetória, ele se lembra com muito carinho de Nancy Aimée Santos, professora de música que trabalhou por muitos anos como voluntária, transcrevendo e revisando partituras.
Atualmente, a Fundação Dorina é a única editora profissional que transcreve musicografia braille. Zoilo não apenas fornece um serviço único no Brasil, como mantém a Fundação Dorina como referência no assunto.